Quem me dera poder dizer o que sinto pela música
É a única certeza que me tira da dúvida.
Os meus dedos começam a pressionar teclas sem piano
As mãos a gestuar sem orquestra
Algo aqui pergunta quando, se é desta
Talvez, que deixo de tentar agarrar as rimas
E desvendar o segredo do que dá sentido à vida.
Será esse, no entanto, o destino
Dos mortais que vislumbram o belo divino.
Viver nessa eterna luta interna
Em busca de toda e qualquer inspiração
Que nos faz sentir aquela explosão efémera
E nos alinha o bater do coração.
Estaremos em busca daquela vontade e existência de viver
Algures adormecida na verdade do nosso ser.
As nossas limitações terrenas tornam qualquer expressão primitiva
Sentimo-nos sempre um fracasso tentando transmitir essa energia sentida
Podemos procurar a sonância das palavras, as notas perfeitas que complementam a melodia.
Ou aquela dança pincelada como há muito não vivia.
Mas o que realmente nos conquista e vicia
É a beleza que transcende da simplicidade como que magia.
Que talvez o segredo esteja nos tons frios, azuis e roxos da sombra,
E que a pausa seja o verdadeiro epítome da música.
Ainda, que a realidade é incerta, apenas uma interpretação do que sentimos.
Desafio imaculado este, o de compreender a arte que existimos.
8 Janeiro 2022